domingo, 28 de junho de 2009

migalhas, apenas


Belo, muito belo. Mais um poema pra lista do "Li, gostei e postei":

Mais de uma vez meu coração trincou feito vidro
diante da página impressa,
e sempre que a palavra justa vem tirar seu mel
de dentro da copa do desespero de amor.
Acredito, do fundo das minhas células,
que uma amizade sincera “é o único modo de sair da solidão
que um espírito tem no corpo”.
Sim, eu acredito no corpo.

Por tudo isso é que eu me perco
em coisas que, nos outros,
são migalhas.
Por isso navego, sóbria, de olho seco,
as madrugadas.
Por isso ando pisando em brasas
até sobre as folhas de relva,
na trilha mais incerta e mais sozinha.

Mas se me perguntarem o que é um poeta
(Eu daria tudo o que era meu por nada),
eu digo.
O poeta é uma deformidade.

Claudia Roquette-Pinto

2 comentários:

Geraldo J. Costa Jr. disse...

Ele precisa sê-lo. Para compreender e ouvir a poesia que existe dentro de si. O poema é muito bonito.

Tulio Malaspina disse...

quando os poetas caem em si, sempre tem essa conclusão: somos os piores tipos.