quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

fragmento mais que tudo


"Abri a janela. Paris cheirava a asfalto e a tempestade, esmagada pelo calor pesado do estio. Segui André com os olhos. É, talvez, nesses instantes em que o vejo distanciar-se que ele existe pra mim com com mais perturbadora evidência: a silhueta alta diminui, desenhando a cada passo o caminho de sua volta; ela desaparece , a rua parece vazia mas, em verdade, é um campo imantado que o reconduzirá a mim seu lugar natural. Essa certeza me comove ainda mais que sua presença."
(Mulher Desiludida- Simone de Beauvoir)

sábado, 8 de dezembro de 2007

Um e Outro


Na tal caixa,o isolamento de corpos entretidos com coisas diferentes...
Um sorvia com avidez e encanto um livro de Beauvoir,o outro "dialogava" com criaturas virtuais,o que dá no mesmo,pois ambos se embrenhavam em suas fantasias.
Salvo alguns sons embaçados,o silêncio era apenas quebrado pelo clic do mouse , o estalido das teclas.
Num canto adunco,um gato se entretia com pequenos insetos,virava o pescoço abrupto,jogava as patas no ar tentando alcançar o ponto em movimento, até repousar a cabeça,lançar um olhar indiferente e fechar osolhos revelando o tédio circunflexo.
Lá fora a chuva cai provocando um barulho constante e um intenso bocejar.
O gato dorme esparramado...um troca o livro pela TV.
Tempos comunicativos esses!!!!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

canção excêntrica


Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
- saudosa do que não faço,
- do que faço, arrependida.
Cecília Meireles

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


Calar-se é suicidar-se,não desses suicídios de praxe,mas um que vai corroendo lentamente,desbotando o brilho trôpego até o grito final que não se esvai.Um grito que não escapa pela garganta,fica preso no vazio dos sentidos e ecoa no veio do pensamento
fomentando o perambular das idéias...

únicas,unas,umas mais,outras menos
mas...menos é mais...não é,garota tatuada?
e nem mesmo o estalido das pedras pisadas por um surrado coturno
interrompe o gemido que antecede o orgasmo




Nada mais sublime que tocar o âmago do humano,fazendo-o vociferar seu uivo taciturno