sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Abril

Adriana calcanhoto

Sinto o abraço do tempo apertar
E redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo
Me vejo cumprindo ciclos, gostar mais de hoje
E gostar disso
Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
Imagino jeitos novos para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar
Pra ver encorparem os caules
Lá vou eu, eu queria ficar
Pra me ver mais tarde,
Sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto
E vejo o tempo em seu claroescuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo, me impelindo, me fazendo
Logo eu que fazia girar o mundo,
Logo eu, quem diria, esperar pelos frutos
Conheço o tempo em seus disfarces, em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses se o meu amor demora
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes
E vejo o tempo apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele
Me vejo o tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

http://br.youtube.com/watch?v=QJ6sg5HEd8s

sábado, 3 de janeiro de 2009

BAGAÇO
(Teresa Drummond)

Por que mastigar o bagaço
da esperança?

Fiapo nos dentes...
Farrapo no peito...

De si, o amor antigo vive
inda que desnutrido de presença,
mas nega a sentença do abismo.

Tantas traças...
Rosas secas no emaranhado do corpo
e de cartas
amareladas no silêncio
do não-dito.

O amor antigo subexiste
de sonhos
e de enganos
...até, e somente até,
o desconjulgar do hábito
infinitivo
de amar à toa.