sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Meus conhecidos

conheço bem os loucos
esses que se jogam da janela
em conflito profundo
com a alma em guerra

conheço esses caras
que atiram no próprio peito
esses em que o limite
está além do desespero

sei deste lado obscuro
onde a loucura não é quimera
da ausência de saídas
de todas as luzes cegas

sim, entendo o absurdo
do muro que não é concreto
das coisas sem sentido
da falta de um objeto

conheço bem esses anjos
que se injetam de veneno
no meio da multidão
explodindo por dentro

sim, os conheço de perto
da borda negra do precipício
clamando por asas ao vento
- seu adeus e último pedido

Luiz Fernando Prôa

Inconfessável

"tem coisas que soam em silêncio
que voam ao vento
que só nós sabemos

tem horas que a vida é senhora
nos pede o agora
sem arrependimento

cada um é refém do momento
ator de um roteiro
sem culpa ou querendo

só resta em certas horas
guardar segredo
até de nós mesmos"

Luiz Fernando Prôa

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Escrever pelo fato de não poder ter,
de não poder ajudar, de não poder ser.
Escrevo para mim,
pra você,
para ela,
para ninguem.
Escrevo pelo fato de sentir
toda esta ventania em volta de mim.

Felipe Oliveira

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Amigo para sempre no meu coração-dezessete de janeiro

Vc surgiu na minha vida éramos tão jovens felizes e despreocupados,íamos na praça,no horto,ouvíamos muita música,trocavámos idéias,vc gostava de Bowie,Carly Simon,eu+ivan tínhamos moto,inspirados pelo famigerado "on the road",sonhávamos com viagens sem rumo,por-do-sol,liberdade...Vc ganhou uma moto,sofreu aquele terrível acidente,bem na frente da casa do Ivan,tudo estava interligado..parececia conto de terror.Daí pra frente,foi uma sucessão de martírios,dores,hospitais... mas aguentou firme como guerreiro que eras,acreditando sempre.Mas um dia,tudo cansa,até a esperança cansa de esperar e vc desistiu de tudo e se deixou levar pelos braços da Morte,depois de um pouco lutar... Lembro de nossas invenções sobre as lápides nos túmulos de nossos amigos,a minha seria uma vitrola,pois eu não parava de falar né...rsrs .Ontem sobre sua esquife as palavras morreram junto com vc,mas uma coisa amigo nunca morrerá,é o amor que sinto por vc.Fique em paz...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Não me devolva o sapatinho que perdi
Prefiro o prazer da liberdade
dos meus pés descalços.

Não me acorde do êxtase
provocado pela doce maçã enfeitiçada
que minha curiosidade me levou a provar.

Não reduza meu espaço
Ao teu reinado.
Não me retire da minha torre
Para me trancar em teu castelo.

Domei dragões
e desfiz feitiços.

Já sou feliz para sempre!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

As Coisas ( Mario Quintana)

O encanto
sobrenatural
que há
nas coisas da Natureza!
No entanto, amiga,
se nelas algo te dá
encanto ou medo,
não me digas que seja feia
ou má,
é , acaso, singular...
E deixa-me dizer-te em segredo
um dos grandes segredos do mundo:
-- Essas coisas que parace
não terem beleza
nenhuma
-- é simplesmente porque
não houve nunca quem lhes desse ao menos
um segundo
olhar!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Edward Hopper



Andar a ouvir um tipo e a ver quadros de outro ao mesmo tempo tem destas coisas: em dado momento pareceu-me que "Because of" do Cohen também servia bem a minha relação com Hopper, nos últimos dias revisitado, um dos residentes mais antigos do meu caos de trazer por casa. Desde que o conheci até agora, que consiga lembrar-me, gostei do Hopper: pelo azul e pelo mar; pelo espaços e pelo vazio dos espaços; pelo cor-de-laranja; pelos faróis; pela solidão; pela luz branca, que é leve, pesada, exacta; pelas cidades; pelo cansaço e pela desilusão; por algumas árvores numa aguarela; pela alegria; pelo corpo em frente ao sol; pelas casas magníficas. Cada fase durou o seu tempo e em cada uma delas, saciada de luz, eu gostei do Hopper mais um bocadinho.Em Hopper a hora que nunca passa e nunca se acaba é a do meio-dia e a luz cai sempre a pique. Mesmo nos interiores nocturnos, quando o esverdeado sombrio do ar nos agiganta as pupilas fá-lo como uma falha, como o meio-dia que não é, não está, mas devia. E a menina do Hotel Room não queria estar ali. Ou queria, mas de dia e com a porta aberta. Solar, em bruto, primordial e granulosa, a luz do meio-dia do Hopper é também a luz do mar alto. Hopper adorava navegar e o primeiro quadro que alguma vez vendeu foi este(sailing.c.1911)(acima)