sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Deixaste-me e seguiste o teu caminho... Eu pensei que ia morrer e depus em meu coração a tua imagem solitária, bordada numa canção de ouro. Mas, ai de mim, que infelicidade: o tempo voa!
Ajuventude vai murchando ano após ano, e os dias da primavera são fugitivos; as flores frescas morrem facilmente, e o sábio me avisa que a vida é apenas como uma gota de orvalho numa folha de lótus... Deveria eu deixar tudo isso de lado e ficar olhando para quem me deu as costas? Seria falta de atenção e tolice, pois o tempo voa.
Vinde, minhas noites chuvosas como rumor de pés molhados; sorri meu outono dourado; vem, descuidado abril, espalhando beijos em todo lugar. Vireis todos? Ah, meus amores, bem sabeis que somos mortais. Vale a pena estraçalhar o próprio coração por alguém que retirou o seu? O tempo voa!
É suave sentar-se num canto a meditar e escrever poemas dizendo que és tudo para mim. É heróico alimentar a própria dor e recusar consolo... Mas um novo rosto espia através da minha porta e levanta os seus olhos até os meus... Vou enxugar as lágrimas e mudar a melodia da minha canção. Sim, porque o tempo voa...

R.Tagore - O Jardineiro