O texto é do Rogério Niffinegger, professor titular do departamento de Psicologia da UFMG.
Caro ficante,
Dirijo-me, agora, a você que tem "ficado", só "ficado".
Porque "ficar" e, não, ficar?
Tecnicamente, você sabe, "ficar" não é ficar, é um estar temporário, sem compromissos e aspirações.
Assim, você também sabe, é da essência do "ficar" não ficar.
O "ficante" típico faz a "ronda", vai de bar em bar, de danceteria em danceteria e vai "ficando", "ficando"... sem ficar, passando...
Ás vezes este "ficar" significa, apenas, conversar com alguém. Ás vezes, dançar, preferencialmente não ser tocado, só tocar. O "ficante" pode até ser tocado, mas não pode ser tocado: Tão perto.. e tão longe!"
Outras vezes o "ficar" é mais complicado e envolve sexo, sem envolvimento, é claro. O momento, talvez, de maior intimidade e toque entre duas pessoas deve ser esquecido, não-tocado, a não ser que ela "fique", não é? Mas isto é uma outra história, uma outra vida, talvez.
Porque, não ficar? Ficar exige comunicação, reciprocidade, envolvimento. Como você sabe, é impossível não comunicar, mesmo não comunicando...
Assim, você, caro "ficante", não pode ficar: restará uma lembrança (geralmente para sempre), um perfume, uma palavra, um desejo, um toque.. nem que seja para se lembrar de um sorriso, de um olhar... sem palavras... com tantas palavras a se dizer...
Desta forma, para evitar estas dificuldades e... perigos, é que recomendo a você, caro "ficante", a não se envolver... não sentir... não tocar... não ser tocado...
Seja leal ao seu interdito interno e evite, a todo custo... ficar... porque, justamente, pode... ser bom... entendeu?
Assim, resumindo o anterior, gostaria de lembrar a você: "Quem só fica não fica, passa..."
Não sei, talvez... se você permitir... se sua mente consciente permitir, talvez... você sonhe...
Observe os seus sonhos, sinta os sonhos que estão dentro dos seus sonhos...
Lembre-se: a vida é breve.
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