terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

last day


Eram dias tristes. Ou mais tristes ainda, não te sei dizer. Olhar os meus sapatos a calcarem a chuva enquanto ouvia música urbana (dessa que faz os prédios mais cinzentos e a humanidade mais desamparada) a caminho do metro, era tudo o que eu queria e gostava de fazer.
Também não sei explicar o poder dos céus e do desconhecido sobre a minha pessoa, por essa altura. Era aquela luz, aquela aura de cidade gigante que não nos esperava tão cedo, já não sei. As pessoas que falavam uma língua que pouco compreendo e lugares e mais lugares e jardins e estátuas e pássaros e casacos e sapatos e árvores e sorrisos e pedintes e carros e calor e o medo e cansaço e umidade e angústia e incerteza e desgosto. Acima de tudo, desgosto.
Não esse desgosto de desagrado pelo que estamos a viver. Era mais aquele desgosto de desalento pelo que nos tornamos. Esse desgosto de já não podermos voltar atrás e corrigirmos as nossas acções.
by Pedro Barbosa

Um comentário:

Anderson disse...

meu deus ciça!
que texto!
a parte do fim... a angústia... perfeito!